quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Viajando no (des)conhecido

(Para Dimitri)

O rapaz tem um jeito despreocupado de caminhar, apesar de ter olhado concentradamente para o relógio do celular. Corre sempre sem muita pressa, talvez seja por isso que sempre chegue atrasado. Ao vê-lo correr, noto que suas calças precisam de um cinto. Talvez seja por isso que o rapaz corra sem pressa.
O sorriso com que acabou de presentear a moça ao seu lado não soa(sim, soar, pois é música) verdadeiro, mas toda a alegria está inerente ao seu brilho. Os seus olhos são grandes e sinceros, daqueles que triplicam qualquer sentimento ou emoção que o rapaz possa sentir. E se o rapaz quiser mostrar a emoção, assim de propósito, então, cuidado para não olhar diretamente para os olhos os quais sempre parecem flamejar. Sua boca parece criada por travessura somente para beijos(e sorrisos grandes).
Suas palavras são sempre incertas e firmes, e curtas. Porém, à medida que o rapaz fala, o tempo escapa. Sai escorrendo, correndo pelas mãos como óleo. Até hoje eu não soube resolver o enigma. E espero nem resolver.
Dentro do rapaz só há certezas, mas a sua superfície em mim sempre é composta por interrogações. Só de orgulho o rapaz deixa que as pessoas aproximem-se dele somente a distância milimetrada que ele predetermina. Pura birra, puro egoísmo. O corpo do rapaz deixou de produzir lágrimas faz tempo. Talvez pela praticidade. Talvez por ser tão contraditório tal ato ao seu ser. E este rapaz cheira a livraria. Talvez de tanto cheirar a livraria, o corpo dele passe a produzir perfume também.
O rapaz não sabe falar certas palavras(às vezes duvido que as conheça). Se as conhecer, balbucia-as baixinho, baixinho, ninguém escuta. Talvez nem mesmo ele.
Este rapaz, dentro de meu coração, sempre será para mim um ponto de interrogação. Vários. Um ponto de interrogação, reticências, um ponto final bem grande. E um de exclamação em algum lugar, escondido.
Mas minha preocupação e consideração por este rapaz parecem só aumentar. Aumentar. Aumentar. Por que será? Mas pra quê essa pergunta.
Ele é um lugar escuro onde seu próprio sorriso brilha, e eu sou míope.

Um comentário:

Thiago Fonsêca disse...

Linda a descrição do rapaz antitético. Belas contruções de imagens para acompanhar-lhe, inclusive na sua ausência.