segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Só sentia conforto na rua, no cinza da cinza, no sujo, no estranho. A rua era um abrigo contrastando-se com o seu ilhado, minado e farpado lar. Os lugares desconhecidos eram luares frescos e aconchegantes.
A casa. A casa: com aqueles personagens quase de uma tragédia shakespeariana. A casa... tão impecavelmente mascarada, azul, telhas perfeitas e jardim colorido: travestiam um castelo de horrores, torturas e mágoas.
Raiva e rancor reunidos em um terrível ritual diário. As mesmas palavras magoavam, maltratavam a murros o amor que na alma restava. As pancadas no peito em pânico eram feito pauladas de pavor, violências que necessitavam com urgência de brutais carinhos.
A alma e o coração em estado de sítio. Sitiados. Não havia solução. Não havia remédio. Os espíritos daquela casa eram tão atormentados e escuros que cegaram de tanta lágrima de ódio. Léguas de distância existiam em um espaço minúsculo do entre dois quartos.
Somente suspiros sossegavam suaves o ser, aquele ser assustado e mais sensível, sujeito principal da caça diária da casa. Suspiros inocentes suscitavam pistas de um amor leve.
O amor fora da casa. Mais perto da rua e dos lugares desconhecidos, ainda bem. De uma alma doce, longa, macia e perfumada conseguira libertar aquele afugentado espírito enclausurado em dor.
O doce amor. Aquele amor que caíra, levitara como chuva musical em suas chagas ardentes. Pairava como um botão de flor. O amor púrpura fizera nela criar vontades de comer as cores e sugar aqueles olhares para sempre. A intensidade a salvara. O amor: graças, salvara.

2 comentários:

Thiago Fonsêca disse...

A casa como espaço para a constante visita incômoda do anfitrião. O exílio para lugar nenhum, fugindo de lugar algum. Porque só o que há é uma passagem, nunca estadia. O ilhamento tendecioso à misantropia também tende para o nomadismo. Seu endereço são as ruas entrecruzadas e malfeitas, sem travestimento de fachada. Sem precisar pular muro, a fuga existe pela entrada principal.

Rebeca Xavier disse...

uma casa de névoas


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