tag:blogger.com,1999:blog-15465525278853364742024-03-12T19:56:45.785-07:00tirando o mofo das entrelinhasYvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.comBlogger12125tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-23399532963462940822008-07-14T21:18:00.000-07:002008-07-14T23:27:38.801-07:00fragmentopara thiago, com carinho.<br /><br /><br />as pernas entrelaçadas dançavam no ritmo preguiçoso do afago mais natural do acordar. é de manhã que os cheiros corporais afloram mais, os poros exalam desinteressados o perfume natural e raro que só quem dorme junto cheira. no pescoço, nos cabelos, na transpiração noturna, no passado dos sonhos da noite anterior.<br />o sol entra manhoso pelas frestas das venezianas das janelas, dos olhos semi-cerrados alvoroçando devagar. a pele, o coração e todo o resto acordam também com a lembrança da noite anterior, lembraças que se confundem ainda com o mundo de pó dourado. não se sabe o que é real e o que não é. as coisas guardam um encanto aguçado no acordar junto. o calor compartilhado, as faíscas entre as almas e as respirações desritmadas.<br />os beijos como pequenos botões mornos começam a passear, formiguinhas agitadas vão aos poucos tirando o outro do mundo de morfeu.<br />a penumbra esclarece. o dia desanoitece e sente-se o abraço essencial.Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-36087789340949382642008-03-28T16:01:00.000-07:002008-03-28T16:02:52.593-07:00Acima dos meus pés, um tapete de água pinga meu miúdo corpo.Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-48668205061767248782008-01-23T07:54:00.000-08:002008-01-23T08:18:46.979-08:00<div style="text-align: justify;">Felipe,<br /><br />Peço desculpas por não ter escrito antes, faz tanto tempo que você me escreveu, mas é que esses tempos eu não tenho vontade de escrever nem meu nome. Fico feliz com as notícias que você me deu, fico feliz que você esteja tão diferente da última carta. Sinto muito a sua falta, apesar de nunca termos nos conhecido pessoalmente, eu sempre senti o calor do seu abraço perto de mim, nos seus desenhos, na sua letra, no seu cuidado.<br />Aqui a vida anda calma, hoje é um dia tão belo de chuva. O céu está tão escuro, e está chovendo, alguns trovões. Sinto-me tão bem como as nuvens encharcadas de cinza e energia. Mês passado fez quatro anos que estou com a Clara. Fico pensando que quanto mais tempo passo com ela, mais certeza tenho que por muitos anos mais desejo passar na presença dela. Mas hoje uma sensação estranha que sinto de vez em quando me persegue. A sensação de uma saudade de momentos que compartilhei com outras pessoas da minha vida e outras que não existiram. É uma saudade tão amiga que está quase fazendo parte de mim. Nesses dias de chuva em que vou até à locadora porque me bate vontade de ver um filme em preto e branco, é como se minha alma fosse tão triste e frágil como um véu. E embaixo do véu? Não sei, parece tão óbvio, tão transparente, mas o véu consegue esconder. Sinto essas saudades estranhas dessas pessoas que existiram e que não existiram e sinto saudades da minha solidão. Não pense que eu me arrependo do tempo que estou com a Clara, cada minuto que passei com ela foi comemorado internamente, com batidas cardíacas festivas. Talvez seja o preço que o amor exige. Um pedaço de mim foi embora e não consigo mais reavê-lo. Era essencial para mim. Mas o que fazer? Penso que devam ser aquelas coisas da vida que ninguém consegue entender.<br />Nesses dias fico com vontade de dormir por acaso ouvindo qualquer música querida, dormir de olhos abertos olhando para a janela e para o céu, para o telhado e ficar imaginando sonhos que não tenho. Deve ser loucura minha. Besteira minha. Coisas da vida.<br />Mês que vem começo o meu curso de Sociologia. Há muito tempo eu esse curso estava na minha lista de cursos para tentar vestibular, e finalmente, aos 27 anos, eu começo. Mas comecei, não é? É o que importa. A vida é tão curta, há momentos que sinto um medo profundo e muito bem escondido da morte, de que ela chegue quando eu menos veja ou me importe, e que eu não tenha amado tudo, visto tudo, feito tudo, andado tudo. E mesmo da velhice. O que eu vou fazer quando for velho? Não é medo do futuro, não sei nem do que é esse medo.<br />Eu sei que mesmo esses pensamentos todos loucos e desorganizados você entenderá ao menos uma parcela, Felipe. Eu sinto sua compreensão de longe. E pensar que temos essa conexão desde 2001. Éramos tão confusos, tão angustiados com tantas coisas. Não sei no que nos tornamos, mas, de qualquer forma, acho que hoje estamos tranqüilos. As confusões e angústias continuam as mesmas e às vezes aparecem mais. Não sei o que pode ter acontecido, acho que simplesmente o tempo passou.<br />Espero que você responda logo minha carta, não siga meu exemplo. Espero que esteja tudo bem por aí, me mande notícias. Próxima carta eu tento te mandar uns poemas do Rilke. São tão bonitos.<br />Vou ali caminhar um pouco com o guarda-chuva enquanto a chuva continua sem trovões, baixinha.<br /><br />Um abraço,<br /></div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-18861420385197724702008-01-08T04:35:00.001-08:002008-01-08T04:37:56.842-08:00<div style="text-align: justify;">Eu só sei que eu queria andar de bicicleta (uma bicicleta verde, assim, com retrovisores) em um feriado ou podia até ser domingo mesmo, em um dia nublado, de manhãzinha bem cinza e claro, que tivesse chovido a madrugada toda e a rua estivesse molhada, e a cidade em silêncio (uns poucos passarinhos, talvez), com preguiça.<br />A bicicleta, o silêncio, a água nas pedras, os passarinhos e seu olhar me guiariam, quem sabe.</div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-90217325160694827732007-11-19T11:36:00.000-08:002011-01-16T19:53:57.445-08:00<div style="text-align: justify;">Só sentia conforto na rua, no cinza da cinza, no sujo, no estranho. A rua era um abrigo contrastando-se com o seu ilhado, minado e farpado lar. Os lugares desconhecidos eram luares frescos e <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_0">aconchegantes</span>.<br />A casa. A casa: com aqueles personagens quase de uma tragédia shakespeariana. A casa... tão impecavelmente mascarada, azul, telhas perfeitas e jardim colorido: <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_1">travestiam</span> um castelo de horrores, torturas e mágoas.<br />Raiva e rancor reunidos em um terrível ritual diário. As mesmas palavras magoavam, maltratavam a murros o amor que na alma restava. As pancadas no peito em pânico eram feito <span class="blsp-spelling-error" id="SPELLING_ERROR_2">pauladas</span> de pavor, violências que necessitavam com urgência de brutais carinhos.<br />A alma e o coração em estado de sítio. Sitiados. Não havia solução. Não havia remédio. Os espíritos daquela casa eram tão atormentados e escuros que cegaram de tanta lágrima de ódio. Léguas de distância existiam em um espaço minúsculo do entre dois quartos.<br />Somente suspiros sossegavam suaves o ser, aquele ser assustado e mais sensível, sujeito principal da caça diária da casa. Suspiros inocentes suscitavam pistas de um amor leve.<br />O amor fora da casa. Mais perto da rua e dos lugares desconhecidos, ainda bem. De uma alma doce, longa, macia e perfumada conseguira libertar aquele afugentado espírito enclausurado em dor.<br />O doce amor. Aquele amor que caíra, levitara como chuva musical em suas chagas ardentes. Pairava como um botão de flor. O amor púrpura fizera nela criar vontades de comer as cores e sugar aqueles olhares para sempre. A intensidade a salvara. O amor: graças, salvara.<br /></div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-9204166108282590152007-11-04T10:55:00.000-08:002007-11-09T11:22:37.389-08:00Sonho sem sonho<div style="text-align: justify;">O capuccino aguado esfriava preguiçosamente sob o livro de poemas. O tédio dominical começava a dar nos nervos. Começou mal o dia: às 4 da manhã acordou com calor de um sonho sem sonho. Ligou a televisão na esperança de que algum desenho animado antigo o confortasse e enfim conseguisse um macio sono. Dormiu encolhido no sofá até as nove da manhã, acordou com dores no pescoço.<br />Os olhos desinteressados passeavam sobre as letras pequenas do jornal e o corpo pedia café. Duas fatias de pão e um café forte e pouco adoçado. A saudade acordava o coração, o tédio amargurava a saudade. Mas saudade do que? Eu queria, eu queria, mas o sonho foi acumulando poeira, o tempo foi passando e eu passei a ter até uma afeição leve às aranhas da teia que nele se criaram.<br />Lia poemas sem gosto, sem rosto, as palavras dançavam e cambaleavam sem sentido, sem paixão. A vida era uma agorafobia só, e parecia ficar menor, menor do tamanho daquelas aranhas. Terminara o capuccino aguado e com gosto de mofo. Como querer algo que já se quer?<br />A voz de outras pessoas uma vez fôra confortável, aquelas palavras distantes do seu mundo, aqueles gestos estranhos ao seu modo de ser. Caminhava para uma misantropia tranqüila, mas a alma tornava-se caótica. Como ter vontade, esta nuvem milagrosa que esfumaça tão rapidamente, cinza, translúcida?<br />O domingo vai morrendo no próprio marasmo, e, afogado na cama, dorme sua vida afundada no tédio inexorável.</div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-64548835197214130262007-08-01T06:16:00.000-07:002007-11-09T11:24:20.496-08:00<div style="text-align: justify;">Como uma densa nuvem púrpura, o amor tomou conta de mim. Fiquei desde então vasta como a noite da madrugada, cheia de devaneios, fresca como o vento noturno, eu não sou eu quando o amor está em mim.<br /> Ele fica em mim, todo esfumaçado, distribuído pelos meus poros, dentro de mim e ocupando toda a poesia ao meu redor. Tornando-me poesia do em redor. Cada palavra agora é suspiro, delicados carinhos para limitar atrozes e reviravoltantes sentimentos humanos.<br /> O amor tornou-me inteira, por completo, não sei onde ele começa e eu termino. Ele termina? Somos uma esfera, um planeta, o amor tornou-me um universo. Sinto-me. Sinto-o. Sinto o amado. Ah, o amado... este transformou-se em mim e eu nele, tão belo e necessário choque. Nascimento de outro. Somos um. Três, um. Conflitantes, apaixonados, loucos, desprovidos de sentidos, carregando a essência da vida.</div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-23149180083021092902007-08-01T06:15:00.001-07:002007-11-09T11:24:49.294-08:00Perdendo<div style="text-align: justify;">Perguntei-me como, em um lugar tão escuro e com tanto barulho, um sorriso pudesse brilhar tanto e olhos pudessem sorrir tanto, escondendo muito bem uma melancolia que parecia tão inerente à eles. Recebi timidez como resposta, um toque de singeleza em palavras tão doces e uma maciez na voz que era tão refrescante como um vento calmo, uma brisa suave que só existe no amanhecer.<br />O primeiro toque meu foi atrevido, mas eu não consegui evitar uma intimidade maior com aquela moça que dançava meio alheia ao mundo.<br />Se minutos, segundos ou horas passaram-se, não sei. Essa moça fez todos os relógios trabalharem mais rápido, talvez por egoísmo, não sei, talvez sabendo que se o tempo passasse assim tão rapidamente, mais saudades eu sentiria daqueles segundos.<br />Fui atrevida com essa moça, sim, porém calei. Parecia-me vão tentar balbuciar qualquer coisa, eu temia que minha língua voraz falasse qualquer coisa que não fosse digno daquele momento.<br />Ela foi embora tão triste, e eu fui embora tão perdida.</div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-87636511828659077262007-08-01T06:07:00.000-07:002007-11-09T11:25:56.023-08:00Desespero<div style="text-align: justify;">Sinto-me em um escuro gelado, cercada de zumbis, robôs, pessoas automáticas. Até a sensibilidade (quando existe) é automática, forçada, guardada, escondida. Sinto o frio espalhando-se lentamente pela quentura, pela fervura de minhas veias, fazendo o magma tornar-se pedra.<br /> Choro, choro por sentir-me tão única e só conseguir me encontrar em mim. O nó na garganta sempre me enforca, mas o peso no meu peito diminui bruscamente em um abraço.<br /> O mundo é doce e violento demais para mim. Eu sou lenta e sensível, sinto a velhice envolver meu coração. Mas sinto paciência, condolência, nada, nada, nada e nada. Mas sinto.</div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-57135139002931040292007-08-01T06:02:00.000-07:002007-11-09T11:28:48.001-08:00Viajando no (des)conhecido<div style="text-align: justify;">(Para Dimitri)<br /><br />O rapaz tem um jeito despreocupado de caminhar, apesar de ter olhado concentradamente para o relógio do celular. Corre sempre sem muita pressa, talvez seja por isso que sempre chegue atrasado. Ao vê-lo correr, noto que suas calças precisam de um cinto. Talvez seja por isso que o rapaz corra sem pressa.<br />O sorriso com que acabou de presentear a moça ao seu lado não soa(sim, soar, pois é música) verdadeiro, mas toda a alegria está inerente ao seu brilho. Os seus olhos são grandes e sinceros, daqueles que triplicam qualquer sentimento ou emoção que o rapaz possa sentir. E se o rapaz quiser mostrar a emoção, assim de propósito, então, cuidado para não olhar diretamente para os olhos os quais sempre parecem flamejar. Sua boca parece criada por travessura somente para beijos(e sorrisos grandes).<br />Suas palavras são sempre incertas e firmes, e curtas. Porém, à medida que o rapaz fala, o tempo escapa. Sai escorrendo, correndo pelas mãos como óleo. Até hoje eu não soube resolver o enigma. E espero nem resolver.<br />Dentro do rapaz só há certezas, mas a sua superfície em mim sempre é composta por interrogações. Só de orgulho o rapaz deixa que as pessoas aproximem-se dele somente a distância milimetrada que ele predetermina. Pura birra, puro egoísmo. O corpo do rapaz deixou de produzir lágrimas faz tempo. Talvez pela praticidade. Talvez por ser tão contraditório tal ato ao seu ser. E este rapaz cheira a livraria. Talvez de tanto cheirar a livraria, o corpo dele passe a produzir perfume também.<br />O rapaz não sabe falar certas palavras(às vezes duvido que as conheça). Se as conhecer, balbucia-as baixinho, baixinho, ninguém escuta. Talvez nem mesmo ele.<br />Este rapaz, dentro de meu coração, sempre será para mim um ponto de interrogação. Vários. Um ponto de interrogação, reticências, um ponto final bem grande. E um de exclamação em algum lugar, escondido.<br />Mas minha preocupação e consideração por este rapaz parecem só aumentar. Aumentar. Aumentar. Por que será? Mas pra quê essa pergunta.<br />Ele é um lugar escuro onde seu próprio sorriso brilha, e eu sou míope.</div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-35456858647911090252007-08-01T06:01:00.000-07:002007-11-09T11:26:48.922-08:00Amargura.<div style="text-align: justify;">Os meus lábios são amargos. De todas as lágrimas desorientadas, do café sem açúcar nem mel da madrugada insone, do escuro teto do quarto inebriado de lembranças oníricas. Minhas lembranças todas perdidas.<br /> A amargura dos segundos seguintes ao fim de um abraço tão à flor da pele de saudade de uma pessoa que deixou de existir. O sabor da solitude exacerbada de um corpo desconecto da alma e da consciência. Sentimentos vivenciados na imaginação. Desespero! Pensar que eu sou tão pouco. Mas tão em mim. (Implosão).<br /> Mas as pessoas são tão muitas. Quero uma ou duas, no máximo três para desejar confundir minha alma tão cinza e desbotada. Para sorrir os poucos sorrisos que restam, para compartilhar o interior de vez em quando.<br /> Meus lábios estão amargos.</div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1546552527885336474.post-42863768283565572842007-08-01T05:57:00.000-07:002007-11-09T11:29:08.426-08:00Cinzenta.<span style=";font-family:Arial;font-size:78%;" ><b>"dia cinzento<br />assim me levanto<br /> assim me sento" </b></span><span style="font-size:78%;"><span style="font-family:arial;">(Paulo Leminski)</span></span><br /><br /><div style="text-align: justify;">As canecas e xícaras sujas espalhadas denunciavam a ansiedade da madrugada anterior. Finalmente conseguira dormir, depois das seis da manhã, depois de tanto chá e de tantas músicas repetidas.<br />Queria ter sonhos coloridos, qualquer um. Nada e tudo era suficiente ao mesmo tempo, o enigma do tédio. Com dezenove anos de idade, sentia a crise dos cinqüenta na alma.<br />Acorda sem sono perto das nove horas e decide passear na chuva. É domingo, não teria ninguém nas ruas a essa hora mesmo. Então escova os dentes, lava o rosto e toma o café morno da tarde anterior. Veste o vestido com o laço cor-de-rosa que nunca havia usado (achava-o infantil e ingênuo demais) e desce as escadas com uma pressa sem motivos aparentes.<br />Caminha longamente até a praça, o ritmo da chuva é agora o dos seus pensamentos. Vida, tédio, vida, vida, quero, onde, tédio. Decide sentar no banquinho desbotado da praça, e percebe a única pessoa que andava pelas redondezas: um velhinho carregando um saco de pão. Este passa ao seu lado com um guarda-chuva preto enorme e caminha em direção a uma das casinhas antigas da rua.<br />Como ele conseguiu chegar a uma idade tão avançada? A vida era tão pouco para Elisa. Não sabia se um dia pularia do seu apartamento por sentir dor ou tédio. Não suportava aquele ciclo de dor, intervalo para breve alegria, tédio, dor novamente, etc.<br />Quando percebeu que sua roupa estava tão ensopada que chegava a grudar no corpo, resolveu comer alguma coisa na padaria em frente. Sentir o cheirinho quente dos pães e doces seria bom. Aproveitaria a tranqüilidade daquele dia chuvoso e deserto.<br />Tomou o café com leite e comeu o sonho devagar, quase esquecendo da materialidade deles. Envolvia-se em si mesma com tamanha facilidade, isso a prendia em seu próprio mundo de tal forma que era difícil ter uma vida social.<br />Ela era vasta, densa, calma, perplexa, imperfeita, incompleta, sem. Não sei se a vida dessa moça de cabelos lisos e olhos pequenos, usando um vestido de laço cor-de-rosa vai mudar. Eu sei que, terminada a refeição, ela voltou para casa com o céu cinza e dormiu.</div>Yvanna.http://www.blogger.com/profile/02107456404355949101noreply@blogger.com1